domingo, 10 de agosto de 2025

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Hirō Isono
: Retro-futurismo urbano. 

The Far Future in science fiction: Especulações sobre futuros muito longínquos. 

Here's What Book You Should Read Based On Your Favorite Game: Uma proposta intrigante, que sugere livros com temáticas que se intersectam com as de alguns dos videojogos mais populares. 

Here are 12 more books to check out this June: Novidades literárias no domínio da literatura fantástica. 

What's New About The New History Of The DC Universe? (Spoilers): E o que é um verão sem essa tradição que é um megaevento que vai redefinir todo o universo dos comics? É uma tradição anual, diria. 

The Best Weird Fiction Books, recommended by Michael Cisco: E sem esquecer um clássico do género, a obra do discreto Arthur Machen. 

New History Books: Há aqui livros cujo "novo" é discutível, a menos que se trate de reedições, mas não deixa de ser uma excelente lista sobre história. 

Returning to memory lane: Os retro-futurismos industriais de Simon Stålenhag. 

The Birth, Life, and Death of Steampunk: Não sei se se pode dizer que o steampunk está morto, ainda tem fãs e praticantes. Mas já perdeu muito do seu vapor. Eu sei, piada farsola.

The Paranormal by Stan Gooch with a cover by Sorter favorite Justin Todd: Surrealismos. 

Scientists Just Found Something Unbelievably Grim About Pollution Generated by AI: Não há aqui grande surpresa. Nem verdadeira razão para alarmismo, se formos conscientes destas questões e pressionarmos as empresas e plataformas a migrar para formas limpas de energia. Estou a ser muito otimista, não estou? 

I See Your Smartphone-Addicted Life: Recusar uma vida dependente do telemóvel, será possível? Confesso que li este artigo como uma sátira inteligente, uma espécie de contraponto às visões sobre o uso dos telemóveis, sempre a tocar na tecla condescendente do mau comportamento dos utilizadores e a sua incapacidade em escapar ao vício. O que é um erro - o que torna os telemóveis viciantes são as decisões de design e usabilidade das empresas da economia digital, que se valem de tudo para captar e monetizar a nossa atenção. Mas preferimos castigar o elo mais fraco nesta cadeia, por enfrentar o real problema nos parece impensável. 

Sincerity Wins The War: Quando publica, Zitron lega-nos grandes testamentos, que valem bem a pena ler e nos deixam a pensar. Aqui, a mensagem é clara: o jornalismo, o verdadeiro jornalismo, que questiona, levanta problemas e não se limita a repetir press releases de forma elegíaca, faz imensa falta. E não só no nicho da tecnologia. 

"What a fun way to celebrate the destruction of our shared reality": Brilhante análise da praga da IA generativa, entre os esquemas de chico-espertice, desinformação (intencional ou não), e a correspondente quebra de credibilidade nos meios de comunicação digitais. São as duas reações perante a AI slop - há os néscios que caem que nem patinhos (e sim, também me arrepiam comentários que vejo em vídeos e imagens claramente geradas por IA a mostrar uma crença inabalável na sua veracidade; e aqueles que tendo dois dedos de testa, passam a desconfiar de tudo, recordando a lição de Esopo na fábula do pastor e do lobo. 

Our Technologies Keep Trying To Give Us “Experiences.” They’re Fake: A mediatização do marketing e a tendência do artificial enquanto experiência. 

Judge Rules Training AI on Authors' Books Is Legal But Pirating Them Is Not: Há um certo ar de decisão salomónica neste caso. 

Google's Imagen 4 text-to-image model promises 'significantly improved' boring images: É significativo que sublinhem este "boring images", posiciona a IA generativa naquele escalão de baixo nível que já todos percebemos que é o seu principal domínio de uso. 

The Secret Reason So Many College Students Are Relying on AI Is Incredibly Sad: Confesso que esta é inesperada. Não é o argumento da cabulice, mas sim o de usar uma ferramenta que lhes desperta sentimentos positivos, de não serem avaliados e julgados. 

Key fair use ruling clarifies when books can be used for AI training: Mais detalhes sobre a decisão que coloca o uso de livros como dados para treino de algoritmos no âmbito do uso justo, ressalvando que piratear para este objetivo não deixa de ser crime. 

Anthropic destroyed millions of print books to build its AI models: Destruir livros para treinar IA? O bibliófilo que sou treme de fúria apoplética. 

Meta’s AI copyright win comes with a warning about fair use: Legalês a funcionar - a Meta ganhou em tribunal não porque os juízes tenham considerado que o seu uso não autorizado de obras literárias protegidas por direitos de autor seja aceitável neste domínio, mas porque os queixosos não usaram os argumentos certos para defender a óbvia posição de ilegalidade das ações da Meta. 

Inside ‘AI Addiction’ Support Groups, Where People Try to Stop Talking to Chatbots: Curiosamente não se trata tanto de adição ao ChatGPT e afins, mas sim chatbots concebidos à partida como simuladores emocionais. 

The photographer using AI to reconstruct stories lost to censorship: Um projeto que usa  a GenIA de forma intrigante, para reconstruir visões culturais perdidas em regimes censórios. 

Real Risk to Youth Mental Health Is 'Addictive Use,' Not Screen Time Alone: Sem grande surpresa. Demonizamos o tempo de ecrã, mas o mal estar advém das técnicas de manipulação comportamental implementadas pelas plataformas digitais. E isso, não temos a coragem de combater. 

Facebook is starting to feed its AI with private, unpublished fotos: O que é que se faz quando os dados públicos já não parecem suficientes para treino de modelos? Procuram-se formas insidiosas de aceder a dados privados. De forma discreta, para garantir que muitos não se apercebam desta óbvia invasão de privacidade e contribuam sem saber com as suas imagens privadas e pessoais. 

This city is the latest European government to dump Microsoft for Linux: Um movimento de investimento em infraestrutura digital europeia que está a crescer, em busca da soberania digital. Este é duplamente interessante, porque não só aposta no open source como contrata com empresas locais, entendendo-se como um incentivo económico à comunidade e não um subsídio para multinacional. Cá, por Portugal, duvido que alguma vez tenhamos estas possibilidades, dada a promiscuidade da nossa classe de decisores políticos com o mundo empresarial (ou seja, nunca se atreveriam a alienar a Microsoft e quejandas) combinada com a imensa ignorância que têm do mundo digital. 

AI might undermine one of the better alternatives to the Kindle: Até a discreta Kobo começa a entrar no jogo da IA Generativa.

Proving Ground, la historia olvidada de las programadoras del ENIAC, las primeras programadoras de la historia (con el permiso de Ada Lovelace): É uma história cada vez menos esquecida, porque tem sido feito um esforço para cercear a injustiça que é o apagar do papel decisivo das mulheres na história da computação.

Runway now has its sights on the video game industry with its new generative AI platform: A geração de jogos é a próxima fronteira da IA Generativa.

Virgil Finlay: Clássicos. 

El arma "invisible" del Pentágono no lanza misiles ni dispara nada: su poder está en mantener a otros aviones en el aire: O papel estratégico dos aviões-tanque, que permitem à aviação militar estender o alcance das suas missões. 

The Business of Betting on Catastrophe: Das epítomes do capitalismo - investir em seguros apostando nas probabilidades de catástrofes a curto e médio prazo. Ganha-se se não acontecerem, perde-se se acontecerem. Pensem em investimentos tipo futuros, mas em modo apocalíptico. Há sempre alguém que encontra uma forma de fazer dinheiro com as coisas mais inesperadas. 

Tras años de turistificación, Santiago se ha encontrado con un problema: es más fácil comprar un souvenir que el pan: Como alguém que tem visitado regularmente Santiago nos últimos anos (por causa da Maker Faire, não por questões religiosas), assisti a esta transformação. O comércio nas ruas que vão dar à Catedral, entre a praça da Galiza, Praça Cervantes, Porta do Caminho e Obradoiro  é essencialmente composto por armadilhas para turistas. É o processo conhecido como a maldição do interesse turístico, que por cá afeta profundamente Lisboa e Porto, mas já alastra para cidades aparentemente mais distantes como Évora ou Leiria. Por outro lado, tenho conhecido a cidade que embora viva deste turismo religioso, não se resume a isso, com um comércio perfeitamente normal a poucas ruas do centro. Como, por exemplo, esse santuário que é a livraria Follas Libres, que tenho sempre o azar de encontrar fechada quando passo por Santiago. 

Exclusive Report: First Look All U.S. Military Equipment Used in Operation Midnight Hammer Against Iran: Há alguns pormenores curiosos sobre esta operação. A tática do engano diplomático, bem como as múltiplas manobras de diversão enquanto se reforçaram meios na zona. Agora, quanto mais se sabe sobre esta operação, sou só eu a sentir aqui uns paralelos conceptuais com Pearl Harbour, na forma da estratégia de ataque?

Trump Got This One Right: Por muito que irrite, há que dar razão a este artigo. A intervenção no Irão era há muito uma infeliz necessidade. Convém recordar que a teocracia iraniana se tem distinguido pelo seu papel desestabilizador no médio oriente, e tem feito guerra aberta através de aliados regionais irregulares, como as milícias que financia na região. As suas ambições nucleares são há muito conhecidas, e confesso que sou daqueles que tem algumas reticências face à ideia de teocratas armados com bombas atómicas. Sendo realista, não há grande perda para a humanidade nestes ataques. Agora, a sensação com que se fica é perfeitamente mostrada na frase com que abre o artigo: “Why are the wrong people doing the right thing?”. 

Convento dos Cardaes: História, Espiritualidade e Património: Um edifício discreto, que no seu interior é uma pérola do barroco português. 

The Anthropocene illusion: As visões idílicas da natureza idealizada que caracterizam as estéticas do antropocénico. 

Self Censorship Is Actually Good: O conceito de liberdade de expressão tem sido cooptado pela extrema direita, que se arroga do direito de afirmar a plenos pulmões os ditos mais insultuosos, racistas ou de baixa índole, mas que depressa gane e geme quando se vê alvo da mesma liberdade que tanto advoga. Mas esta liberdade absoluta é uma falácia anti-social; viver em sociedade requer aprender a gerir a expressão das emoções. Não é, por exemplo, nem nunca foi, aceitável para um homem exprimir livremente de viva voz os pensamentos sexuais sobre as mulheres atraentes com que se cruza. o mesmo se aplica a todos os níveis de relações sociais. É a elementar convivência social, que nos faz relacionar com o outro, independentemente dos seus credos, ideologias ou modos de pensamento. É esta cola social que os extremistas de direita querem destruir, e como observa o artigo, quando eles dizem que se sentem amordaçados, sabemos o que é que eles realmente querem dizer. 

Hace años Lisboa se propuso ser una capital turística. Ahora se ha convertido en el mayor infierno turistificado de Europa: Inferno turístico é mesmo a expressão que assenta como uma luva na minha Lisboa, embonecada para gáudio de escapadelas de fim de semana, onde as habitações são air bnbs e os restaurantes servem chacha abrilhantada para quem confunde boa comida com géneros alimentícios agradáveis às redes sociais. 

Humanity Is Playing Nuclear Roulette: Quando temos personalidades narcisistas a tomar conta dos destinos das nações armadas com bombas atómicas, os riscos disparam. 

Rusia ha perfeccionado el arma más mortífera de la guerra en Ucrania: ahora persiguen a los humanos por su cuenta: A combinação de automação com IA traz novos pesadelos aos campos de batalha. 

Chartbook 392 Incoming from outer space: The geo-military radicalism of Iran v. Israel 2025: A lição que podemos tirar do recente conflito israelo-iraniano (com ajuda americana) - a guerra no futuro não será só campo de batalha dominado por drones, mas sim travada nos limites orbitais em duelos de mísseis e antimísseis. 

The Bizarre German Aircraft with an Identity Crisis: The BV 155: Um protótipo de caça naval que nunca o foi, e deu origem a outros protótipos mal sucedidos. 

Simulating Empires with Procedurally Generated History: Uma proposta estimulante, simular a evolução de regras históricas. 

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Construtores de Continentes


L. Sprague de Camp (1977). Construtores de Continentes. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora.

Confesso que li muito pouco da obra deste nome clássico da FC pulp. Enontrei este Construtores de Continentes nos acasos de alfarrabistas, e não resisti a experimentar. Sem o saber, peguei num romance da sua série Viagens Interplanetárias (título original em português). O conceito de base desta especulação futurista é típico dos traumas e medos dos tempos mais perigosos da guerra fria - um futuro em que uma guerra mundial reduz uns destruídos Estados Unidos e União Soviética à condição de potências secundárias, e a liderança global recai sobre os países não afetados pela guerra nuclear, com o Brasil a tornar-se super-potência global num planeta que começa a expandir-se pelo espaço, a contactar com civilizações alienígenas e colonizar novos planetas.

Este é o conceito base, mas os romances seguem a muito clássica estratégia editorial do fix-up. Não são narrativas longas e estruturadas, mas sim um juntar de contos passados dentro deste espaço ficcional. Este foi um dos passos da evolução da FC enquanto género literário, boa parte dos grandes livros clássicos vive deste artifício em que os autores republicavam no formato livro os contos que já tinham publicado nos pulps. E não consigo indicar-vos melhor exemplo disto do que o soberbo Crónicas Marcianas de Ray Bradbury.

Regressando a este volume de de Camp, dá-nos duas histórias passadas neste universo lusófono. Na primeira, Moto-contínuo, um vigarista empreendedor em busca de riqueza fácil vai a um dos planetas habitados por extraterrestres tentar esquemas para enriquecer á custa dos nativos. Apesar dos contactos restringidos com humanos, por causa dos desníveis tecnológicos e sociais entre as culturas locais e a civilização intergaláctica terrestre, é possível a este vigarista enganar os habitantes de uma sociedade medievalista baseada na liderança de elites propondo múltiplos esquemas de enriquecimento certo para todos os envolvidos. O que o trama nas suas tramóias é o regresso de um dos nativos, que consegue sobreviver a uma missão impossível, e que é o noivo da nativa com que o humano se envolve. Nada de anormal na situação, nesta sociedade as mulheres são livres de trocar de companheiros, mas as regras da cultura exigem que haja uma luta entre os dois escolhidos das jovens. Algo que o bem mais fraco humano sabe que não conseguirá vencer, e só lhe resta largar os proventos e fugir.

Construtores de Continentes, o conto que dá nome ao livro, é uma narrativa de conspirações. Um jovem cientista vê-se, graças ao seu trabalho, envolvido numa conspiração criminosa. Este participa num projeto que irá fazer emergir um novo continente no atlântico sul, para combater a sobrepopulação. Um esquema de geoengenharia que desperta a atenção de uma espéice alienígena, que vê uma hipótese de estabelecer uma colónia na Terra explorando o mesmo tipo de artimanha legal que permitiu aos terrestres dominar um continente no seu planeta - encontrar forma de tomar posse das novas terras antes que as autoridades terrestres o façam. Esta é uma história de aventuras, cheia de tropelias e uma mal fadada paixão entre o cientista terrestre e uma jovem alienígena. Fiel ao espírito pulp, a alienigena vem de uma espécie humanóide ovípara, mas dotada de generosas glândulas mamárias que na sua cultura são visíveis através do vestuário. Faz zero sentido do ponto de vista biológico, mas excitava a imaginação dos leitores dos pulps.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Spitfires e Hurricanes em Portugal


Mário Lopes (1994). Spitfires e Hurricanes em Portugal. Lisboa: Dinalivro.

Uma história necessariamente técnica, da introdução ao serviço português das duas mais icónicas aeronaves de combate dos anos 40. Mas que acaba por ser uma história, ou melhor, uma análise a um detalhe histórico, do envolvimento português na II Guerra Mundial. Uma neutralidade que pendia, apesar da ditadura de direita por cá reinante, para o lado inglês por razões históricas e tradicionais. Mas também uma neutralidade ameaçada, entre o medo que a Espanha franquista decidisse tornar Portugal em mais uma província espanhola (estando ou não ao lado do Eixo), e as claras pretensões americanas de ocuptar o arquipélago dos Açores, travadas pela diplomacia britânica. 

Embora o livro seja sobre aviação, a forma como Portugal obteve estas aeronaves mostra bem os jogos diplomáticos. O fortalecimento da aviação portuguesa com Spits e Hurricanes fez-se ao abrigo de acordos que expandiam a concessão de facilidades aos aliados, especialmente nos Açores, e foi constituído por aeronaves veteranas das campanhas aliadas em solo inglês e norte-africano. 

O livro também detalha outras situações, como o caso dos aviões internados e colocados ao nosso serviço. Por internados entenda-se aviadores que se viram forçados a aterrar num país neutral, sendo detidos e as suas aeronaves confiscadas, regras habituais nestas situações. No caso português há a notar um certo fechar de olhos ao destino dos pilotos, parece que ninguém se chateva muito se estes se conseguissem evadir e regressar às suas unidades, e alguns eram retirados de cá por ação diplomática. Parte dos aviões internados entrou nos inventários militares portugueses (o que explica a presença de P39 por cá), outros eram trocados por reforço de meios e peças sobressalentes para aeronaves já adquiridas.

Nisto dos internamentos, o autor detalha uma história particularmente rocambolesca envolvendo dois P-38 americanos forçados a aterrar em Lisboa durante voos de transferência para o Norte de África. O primeiro aterra por problemas de combustível, e o piloto, que não esperava ser internado, vê-se algo atónito com a reação portuguesa. Mas o seu avião desperta a curiosidade dos militares que o guardavam, e enquanto esperavam pelos agentes que iriam internar o piloto americano, um piloto português pede-lhe que mostre como é que o P-38 funciona. Estão a ver no que é que isto vai dar, não estão? O americano, supostamente detido, regressa ao cockpit e começa a ligar o avião, com o português empoleirado na asa a ver tudo. Entretando, nos céus aparece um outro P-38 também em apuros, o que distrai os guardas que no aeroporto de Lisboa vigiavam o primeiro P-38. O americano apercebe-se da distração e não perde a oportunidade: arranca o motor, abana o avião para o português cair da asa, e levanta voo, escapando-se ao internamento. O segundo piloto aterra, e vê-se rodeado por uma turma enfurecida, que o arranca do cockpit e o mete logo a ferros. Num daqueles pormenores tipicamente portugueses, este P-38 foi colocado ao serviço da aviação militar, mas sendo o únido do tipo e sem peças para o manter a voar, só servia para paradas militares e foi conhecido como o "avião dos generais", porque estes gostavam muito de o ver na pista quando visitavam o campo de Tancos.

Este detalhe da história portuguesa na II Guerra insere-se na génese da Força Aérea como ramo independente, e de certa forma mostra também o ocaso dos impérios europeus no mundo pós-guerra. Se durante a guerra o apoio e material militar britânicos são vistos como o desejável, no pós-guerra e entrada portuguesa na NATO o foco passa a ser decisivamente americano.

domingo, 3 de agosto de 2025

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SOURCE: x-ray delta one
: Abstrações aeronáuticas.

Lançamento: Batman/Dylan Dog - A Sombra do Morcego: Uma excelente surpresa para os fãs quer de Dylan Dog, quer de Batman. O trabalho gráfico de Dell'Edera está especialmente deslumbrante, e tudo o resto vale a pena - Recchioni faz um excelente trabalho de cruzament entre os mitos de Dylan e Batman.

The Naked Gun: New Poster Released, Official Trailer Drops Tomorrow: Leio isto, e credo! A indústria anda assim tão falha de ideias que tenha de reciclar as comédias politicamente incorretas dos anos 90? Na altura tiveram piada, e ainda hoje se podem ver, recordando que são piadas com contextos específicos. Mas recriar, não faz qualquer sentido.

Mel Brooks is returning for Spaceballs 2: Já aqui, suspeito que seja um velho mestre a fazer o seu canto de cisne, a aplicar o seu humor corrosivo vindo de um outro tempo.

This Week Is The Two Hundredth Anniversary Of The Comic Book: Provavelmente outros irão apontar outras publicações antecedentes do género. Este é um aniversário possível, partindo de uma publicação satírica.

Prémio Ursula K. Le Guin 2025 - as nomeações: Como observa bem o João Campos, estão aqui excelentes sugestões para descobrir o que de melhor se faz na FC contemporânea. 

Sensor, de Junji Ito: Ó, sortudos leitores portugueses, eis que às livrarias chega um novo livro do (imho) melhor mangaká de terror. 

Out of the Past: LGBTQ Science Fiction, Fantasy and Horror 2010 – present: Confesso que vejo nestes títulos um interesse excessivamente pedagógico, mais focados na sua agenda do que na FC em si. Nada de errado com isso, obviamente, mas torna estas leituras algo estéreis para quem está fora desta bolha cultural. 

Best Science Fiction Books of 2025, recommended by Andrew M. Butler: Boas sugestões de leitura, parecem-me. Service Model tem momentos brilhantes e hilariantes, embora se arraste um pouco. Os restantes, tenho alguns na calha para leitura. 

The Cerebral Library: Estranhos alienígenas.

Disney And Universal’s Battle With Midjourney May Reshape Copyright: A gigante não brinca com direitos de autor, e escolheu bem o adversário - não empresas como a meta, google ou open ai, que têm recursos para enfrentar a Disney, mas sim a mais independente Midjourney. O argumento é válido, o uso de imagens para treino de algoritmos de IA é uma forma de plágio. Será que as leis, e o nosso entendimento do conceito de plágio, se alterará face a estas guerras judiciais?

Hollywood está usando la IA en absolutamente todos los aspectos de la producción de películas. Y se le da fatal ocultarlo: É inevitável que a indústria cinematográfica se aprorprie destas ferramentas. 

An Ugly New Marketing Strategy Is Driving Me Nuts (and You Too): Tão, mas tão certeiro - o modelo de negócio das plataformas digitais (e não só) evoluiu de prestação de serviços aos clientes para cobrar aos clientes a prestação de serviços com menores inconvenientes. Claro está, isto não é uma evolução.

PSA: Get Your Parents Off the Meta AI App Right Now: Quão má poderá ser esta app de IA da meta? Pior do que imaginam, com a sua propensão para mostrar publicamente os prompts daqueles que interagem com ela. Não é só o lixo generativo.

AI chatbots tell users what they want to hear, and that’s problematic: O problema da sicofância na interação com IA.

Why Pilots Will Matter in the Age of Autonomous Planes: O investimento em tecnologias de automação aeronáutica, apesar das promessas, não torna os pilotos obsoletos.

Why JPEGs Still Rule the Web: A ubiquidade, histórica, do formato de compressão de imagem mais utilizado.

Here comes the AI sponcon: Estão a ver aqueles vídeos irritantes das redes sociais, boa parte ao vivo, com empreendedores de baixo nível a esforçar-se por vender tralha, roupas ou outras cangalhadas? A IA já permite tratar disso com baixo esforço.

Los colegios nacionales no quieren el móvil en clase. Cataluña ha sido la última en unirse a la fiesta: Estas medidas são simbólicas de um profundo mal estar social com os telemóveis. Na verdade, são medidas tiro ao lado, que se focam nalguns sintomas mas não no que realmente provoca este mal estar com o mundo digital - a forma abusiva como as platadoras digitais, com as redes sociais a mostrar as piores práticas, trata pessoas e sociedades. Estas iniciativas são fundamentalmente ineficazes, tirar o telemóvel na escola apenas garante total descontrole de uso fora da escola. São, também, distrativas, ou talvez reveladoras da falta de coragem social em enfrentar os desmandos das plataformas digitais. 

The Entire Internet Is Reverting to Beta: A mudança para a IA tem sido rápida, impulsionada pelas empresas que veem nesta tecnologia o filão lucrativo futuro. O problema é que apesar de todo o hype, a IA não é tão útil quanto isso, e também não é fiável. Ou seja, como observa bem este artigo (e o sentimos no nosso dia a dia de interações), estamos a usar cada vez mais ferramentas que sabemos que vão falhar. Isto, claro, se estivermos atentos a estes temas. Se não, como suspeito que a larga maioria dos utilizadores estão, vão sofrer todas as consequências do uso intensivo de ferramentas não confiáveis. O que é que poderá correr mal: "AI products could settle into a liminal zone. They may not be wrong frequently enough to be jettisoned, but they also may not be wrong rarely enough to ever be fully trusted. For now, the technology’s flaws are readily detected and corrected. But as people become more and more accustomed to AI in their life—at school, at work, at home—they may cease to notice. Already, a growing body of research correlates persistent use of AI with a drop in critical thinking; humans become reliant on AI and unwilling, perhaps unable, to verify its work. As chatbots creep into every digital crevice, they may continue to degrade the web gradually, even gently. Today’s jankiness may, by tomorrow, simply be normal.

The AI Slop Fight Between Iran and Israel: Tenho visto algumas destas imagens e vídeos, e o nível de irrealismo absurdo é de ir ás lágrimas. Mas notem que pessoas conhecedoras não são o público-alvo desta guerra informacional, mas sim as massas de pessoas desinformadas que, no mundo online, dão eco a esta desinformação. 

Windows parental controls are blocking Chrome: Na competição comercial entre empresas, vale tudo, claro. 

AI residencies are trying to change the conversation around artificial art: O lado mais conhecido da IA generativa, a geração de imagem e vídeo, tem com a sua baixa qualidade estética e questões de direitos de autor vindo a deturpar o debate sobre a IA como ferramenta artística. 

AI Art Looks Like When It Hasn’t Trained On Artists’ Work: Pode um algoritmo sem dados de treino gerar conteúdo? Esta experiência estética usa GANs que em feedback cíclico geram imagens sem treino prévio. Abstratas, claro, o que torna a experiência ainda mais interessante. 

Psychiatrist Horrified When He Actually Tried Talking to an AI Therapist, Posing as a Vulnerable Teen: A lição de Weizenbaum esta há muito esquecida. 

Un momento incómodo se está volviendo habitual en las reuniones: alguien las graba con IA sin avisar y nadie sabe qué hacer: Ética na era da IA também passa por isto, pela transparência quando estamos a usar estas ferramentas.

Child Welfare Experts Horrified by Mattel's Plans to Add ChatGPT to Toys After Mental Health Concerns for Adult Users: Bonecas falantes e chatbots. O que é que poderá correr mal aqui?

ChatGPT May Be Linked to 'Cognitive Debt,' New Study Finds: Não há aqui grande surpresa, se delegamos funções cognitivas a uma ferramenta, estas tendem a degradar-se. Mas notem que o artigo não é alarmista ou catastrofista, apenas relata algumas observações.

Phantom World: A resistência do corpo feminino ao vácuo do espaço não cessa de surpreender.

NRP D. JOÃO II - Apresentação da Futura Plataforma Naval Multifuncional da Marinha Portuguesa: O mais importante nisto nem é a embarcação, mas saber se as capacidades tecnológicas se mantém por cá.

El tamaño de Centroeuropa ha sido clave para su desarrollo. Y hay una forma fácil de entenderlo: usar un mapa de España: Há muitos factores que ajudam a explicar a capacidade de desenvolvimento da chamada "banana europeia" - o eixo que vai sensivelmente de Londres a Milão. Um é este, a proximidade geográfica que só nos apercebemos que existe quando sobrepomos o mapa centro-europeu com a península ibérica.

Wargame Shows How CCAs Could Take On China: A integração de drones autónomos nos grandes jogos de estratégia militar.

The Perfect Astronaut Is Changing: Resta saber se com um governo claramente anti-ciência e gerido por perfeitos idiotas, a NASA não irá colapsar.

Yes I Will Read Ulysses Yes: Recordando o recente 16 de junho, aka Bloomsday para os joycianos.

Hace un año Cataluña decidió empezar a regular sus alquileres. Ahora tiene algo que parecía imposible: precios más bajos: Espera, quer dizer que ao contrário do que toda a propaganda neoliberal, regular o mercado traz benefícios para a maioria das pessoas, e não apenas lucros desmedidos para a classe rentista?  

America's Forgotten Moon-Base Plans: É sempre estimulante mergulhar na história destes planos, sonhos de um passado que imaginava possibilidades do futuro. 

Reading the Fractals: What Nature’s Patterns Say About Our Future: Um olhar poético e científico para a beleza aleatória dos padrões fractais naturais. 

Trump’s Two-Week Window for Diplomacy Was a Smoke Screen: Isto é a geopolítica global sob égide trumpista: falar de negociação, e atacar de surpresa, mostrando que mente quando fala de pausas e negociações. Isto pode parecer uma decisão rápida, mas não foi. Há meses que notícias mais discretas mostram que a estratégia estava há muito a ser montada: a colocação de B2 em Diego Garcia em março, a retirada de pessoal não essencial do corpo diplomático no médio oriente, o progressivo reforço de meios aeronavais na zona, e em fins de  maio o desvio de armas anti-drone da Ucrânia para as tropas americanas no médio oriente. A deslocação da frota aérea de aviões-tanque dos últimos dias foi o sinal que as últimas peças do xadrez estavam no lugar. Note-se também o timing com que Israel lançou os seus ataques. É impossivel que não tenha havido coordenação disto entre os dois governos, com os israelitas a assumir a missão de iniciar os ataques, abrindo espaço aos americanos. 

terça-feira, 29 de julho de 2025

Os Meus Amores


Trindade Coelho (2023). Os Meus Amores. Porto: Book Cover.

Vou fazer uma confissão horrível. Ler este livro fez-me pensar naqueles paineis de azulejos que encontramos nas estações clássicas de caminho de ferro, um pouco pelo país fora. Sabem do que estou a falar, daquela azulejaria figurativa que tem como tema os costumes e tradições locais, e que na prática preserva uma iconografia idealizada e bucólica do que era a vida campestre noutros tempos. Foi essa a estética que senti ao longo desta leitura.

O livro compõe-se de histórias soltas, sem ligação entre si, mas todas com um tema comum - a visão idealizada e bucólica da vida no interior, nas aldeias do país profundo. Ficaram de parte quaisquer considerações históricas ou sociais da pobreza extrema e atraso de desenvolvimento nestas áreas que só no final do século XX começámos a mitigar. Mas isso não retira mérito ao livro. Nem toda a literatura que se foca nos modos e viveres tradicionais tem de ser uma visão crítica acutilante.

Pleno de bucolismo e um sentimentalismo muito ao gosto do século XIX, estes contos originalmente editados em 1891 romantizam as vidas do povo das aldeias. São um produto do seu tempo, das sensibilidades de um autor que saiu desse substrato para entrar, via educação e serviço público, num tipo de classe social geralmente inacessível ao povo pobre.

domingo, 27 de julho de 2025

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Artwork for ATARI’s Phoenix / Asteroids / Vanguard by Terry Hoff
: Clássicos do digital.

Sagan's Youth and the Progressive Promise of Space: Um cientista que apreciava a FC, como inspiradora, chegando a escrever um romance (mediano) no género. 

The best books on Long-Distance Journeys, recommended by Louis Hall: A literatura que imortaliza as impressões e sensações de viagem. 

Encountering Aliens With Carl Sagan: Há aqui uma forte preocupação com a religiosidade de Sagan, mas o artigo vale pela forma como mostra uma curiosa intuição do autor e cientista - o crescimento da importância politica das seitas religiosas. Algo que hoje estamos a sentir os efeitos na política global. 

The orb pondering industrial complex: Futuras indústrias. 

17 Best Tools To Teach Coding: Apesar das muitas boas sugestões, confesso que fico a duvidar da credibilidade de um artigo que deixa de parta a melhor, mais abrangente e aberta solução para aprendizagem de programação e pensamento computacional - o Scratch. Que, para lá de ser marcante, é também a tecnologia que sustenta muitas das sugestões do artigo. 

Al fin tenemos los vídeos de Noé construyendo su arca, Jesucristo multiplicando peces y Eva siendo tentada. Gracias a la IA, claro: Esta trend de revisitar o passado com IA tem a sua piada, e seria relativamente inócua, senão pela credulidade de demasiados dos que consomem conteúdos online, que depressa ficam convencidos que estão a assistir a verdades históricas. 

5 More Hacks for Your Discarded Electric Toothbrush: Reaproveitar, reciclar, e fundamentalmente, criar. 

Meta's AI memorised books verbatim – that could cost it billions: Que chatice esta de tribunais e reguladores, que insistem que a apropriação sem compensação de material literário representa um crime de violação de direitos de autor. 

A history of the Internet, part 2: The high-tech gold rush begins: A imperdível história da Internet via Ars Technica recorda a primeira bolha online, quando surgiram os primeiros navegadores e serviços agregadores de informação. 

Navigating the Dual-Use Dilemma: A recente façanha ucraniana com drones mostrou a facilidade com que as boas intenções de abertura e acessibilidade do software open source podem ser apropriadas para fins mais nefastos. 

Russian Force Generation and Technological Adaptations Update June 11, 2025: De uma guerra de artilharia a uma de drones, com o intensificar do uso de IA no campo de batalha.

Good Taste Will Be Even More Important In The Age Of AI: Confere. Tanto do que tantos partilham como "arte" gerada por IA é do mais confrangedor foleirismo. Pensem menino da lágrima on steroids.  

Why Denmark is dumping Microsoft Office and Windows for LibreOffice and Linux: A soberania digital a ganhar terreno na Europa. Por cá, isto parece-me impossível, dado que a literacia digital dos decisores e de grande parte de população se divide entre escrever documentos no word e partilhar mensagens no whatsapp.

Chris Foss, “Ganymede Takeover”: Um toque de Nazca. 

https://www.tumblr.com/70sscifiart/785359636807188480/chris-foss-ganymede-takeover

Bild: Ukraine uses F-16 to down Russian fighter: Caças de gerações anteriores, considerados quase obsoletos, mostram-se capazes de abater aeronaves com capacidades superiores. Aconteceu na Ucrânia, e na Índia, quando J10 paquistaneses abateram moderníssimos Rafale indianos. O truque está na tática, o sucesso destas aeronaves mais antigas sustenta-se em mísseis para lá do alcance visual e plataformas de radar aéreo que vetorizam a intercepção a grandes distâncias. 

The Many Sides of Erik Satie: Recordar o compositor que, mais famoso pelas suas Gymnopédie, tem uma obra complexa e inovadora. 

The Israel-Gaza tragedy and Europe's responsibility: A impossível impassibilidade com que nós europeus contemporizamos com um governo israelita genocida tem as suas raízes na história recente da Europa. Mas o reconhecer os erros do passado não deveria ser carta branca para crimes de guerra. 

Ainda estamos todos com os olhos em Gaza? E quem comanda o que vemos?: Desinformação fou algo que sempre existiu, a diferença hoje está na forma rápida e amplificada como nos chega através de paisagens mediáticas fragmentadas, onde as redes sociais são o meio privilegiado de contágio. 

Israel gains formal justification for Iran strike: Somar as parcelas de uma equação preocupante - um governo genocida cheio de vontade para alargar a guerra, uma administração americana de tendências fascizantes que começa a precisar de encontrar meios de afastar os olhares sobre o desastre que está a ser as suas políticas (desde as tarifas às deportações em massa), e uma guerra a apelar ao patriotismo é algo que lhes faria imenso jeito. Antes desta nota, há que recordar que os EUA já começaram a retirar pessoal não essencial das suas embaixadas no médio oriente, e a reforçar militarmente as suas forças na zona, com desvio de materiais destinados à Ucrânia que agora irão equipar militares americanos. Claramente algo está a preparar-se. 

Israel’s Bold, Risky Attack: Confesso que esperada que se passassem semanas, ou talvez dias, até ao expectável ataque israelita. Na verdade, foram horas.

The Wet History of Media in the Bathroom: Traços da publicidade que nos convenceu a levar música para o chuveiro. 

quinta-feira, 24 de julho de 2025

The Ministry of Time




Kaliane Bradley (2024). The Ministry of Time. Londres: Avid Reader Press.

As viagens no tempo são um tema muito explorado na ficção científica, e pano para narrativas convolutas, graças aos paradoxos advindos do emaranhar da linearidade do tempo. Neste surpreendente e excelente romance, Kaliane Bradley afirma logo à partida querer ignorar essas premissas elementares do género, construindo a sua narrativa afirmando que os paradoxos temporais não existem. Mas, no final, tira o tapete debaixo dos pés do leitor quando percebemos que toda a história não passa de um elo num ciclo de paradoxos temporais manipulados em busca de um resultado desejado.

O livro leva-nos a uma Londres de um futuro próximo onde a desagregação social, económica e ambiental advinda das alterações climáticas se começa a sentir. Não é um mundo em derrocada apocalíptica, mas há um sentimento de erosão progressiva. É neste clima que uma tradutora de origem cambojana consegue ser aceite no que lhe parece ser o emprego de sonho, com uma posição misteriosa num departamento governamental inglês.

A sua missão revelar-se-á chocante: terá de acompanhar expatriados que foram resgatados de terras que já não existem, pois foram subtraídos ao passado. O programa é experimental, testando uma máquina do tempo obtida pelos ingleses em circunstâncias pouco claras, tendo trazido para o século XXI pessoas vindas de outros séculos. Em comum têm o terem estado às portas da morte. Aliás, precisamente porque o registo histórico preserva a memória das suas mortes violentas é que são considerados seguros para resgatar sem risco de paradoxos temporais.

Boa parte do livro vive do contraste dos humores, reações e percepções de pessoas que vieram de outros tempos, com os seus modos culturais próprios, com as formas de estar da modernidade. E aqui, é impossível não fazer uma ligação pouco subtil com os nossos tempos atuais, onde as vagas de migrantes e deslocados, com as ondas de choque que provocam, são manipuladas para acicatar discursos de ódio. Dado o tempo presente e a própria história da autora, esta é uma metáfora não explícita, mas que se sente.

Enquanto nos entretemos com as idiossincrasias daqueles cuja forma de estar tem pouco a ver com a modernidade, embora se adaptem, há uma outra história que decorre em surdina até se tornar preeminente. Há uma guerra entre futuros que procuram controlar a máquina para controle de recursos, e iremos perceber que a jovem tradutora está no cerne de tudo isto. Sem querer fazer grandes spoilers, há um laço temporal fechado com o seu futuro eu, que anda a tentar manipular acontecimentos do passado até obter o futuro que pretende.

A leitura é escorrida e mesmo nos seus momentos mais prosaicos não se consegue largar o livro. Uma obra refrescante, vinda de uma nova voz da FC britânica com um sabor global.